31.10.06

Cores da vida





Uma amiga muito especial está em Timor e sofre. Por ela e por aquele país que, de facto, parece inviável.

Muitos quilómetros nos separam. Mas a solidariedade e o afecto anulam distâncias.
Partilhamos os sonhos e as dores.



Sonhos com as cores do Outono...






Dores como alguns cinzentos da vida.
Eia, Amiga! Não deixes que os limos destruam a madeira do teu barco!

27.10.06

RILKE: palavras que são como luz na escuridão




Rainer Maria Rilke:

Rainer Maria Rilke nasceu em Praga no dia 4 de dezembro de 1875. Depois de viver uma infância solitária e cheia de conflitos emocionais, estudou nas universidades de Praga, Munique e Berlim. As suas primeiras obras publicadas foram poemas de amor, intitulados Vida e canções (1894). Em 1897, Rilke conheceu Lou Andreas-Salomé, a filha de um general russo, e dois anos depois viajava com ela para seu país natal. Inspirado pelas dimensões e pela beleza da paisagem como também pela profundidade espiritual das pessoas que conheceu, Rilke passou a acreditar que Deus estava presente em todas as coisas. Estes sentimentos encontraram expressão poética em Histórias do bom Deus (1900). Depois de 1900, Rilke eliminou de sua poesia o lirismo vago que em parte lhe haviam inspirado os simbolistas franceses, e, em seu lugar, adotou um estilo preciso e concreto, que podemos perceber em O livro das horas (1905), que consta de três partes: O livro da vida monástica, O livro da peregrinação e O livro da pobreza e da morte. Esta obra o consolidou como um grande poeta por sua variedade e riqueza de metáforas, e por suas reflexões um pouco místicas sobre as coisas.


«Há apenas uma coisa realmente necessária: solidão, grande solidão interior. Entar-em-si e não encontrar ninguém durante horas a fio - é isso que se tem de alcançar. estar só, como quando se era criança e os adultos andavam em redor, para lá e para cá, absorvidos com coisas que pareciam grandes e importantes só porque eles pareciam tão ocupados e porque não se compreendia nada sobre a sua actividade.» ( in Cartas a Um Jovem Poeta, R.M.Rilke)
Em Paris, em 1902, Rilke conheceu o escultor Auguste Rodin e foi seu secretário de 1905 a 1906. Rodin ensinou o poeta a contemplar a obra de arte como uma atividade religiosa e a fazer versos tão consistentes e completos como se fossem esculturas. Os poemas deste período apareceram em Novos poemas (2 volumes, 1907-1908). Até o início da I Guerra Mundial, o autor viveu em Paris de onde realizou viagens pela Europa e pelo norte da África. De 1910 a 1912 viveu no castelo de Duíno, próximo a Trieste (agora na Itália), e ali escreveu os poemas que formam A vida de Maria (1913). Logo após iniciou a primeira redação das Elegias de Duíno (1923), obra esta em que já se percebe uma certa aproximação dos conceitos filosóficos existenciais de Soren Kierkegaard.Em sua obra em prosa mais importante, Os cadernos de Malte Laurids Brigge (1910), novela iniciada em Roma no ano de 1904, empregou imagens corrosivas para transmitir as reações que a vida em Paris provocava em um jovem escritor muito parecido com ele mesmo.Residiu em Munique durante quase toda a I Guerra Mundial e em 1919 mudou-se para Sierra (Suíça), onde se estabeleceu para o resto de sua vida, salvo algumas visitas ocasionais a Paris e Veneza, concluindo as Elegias de Duíno e escreveu Sonetos a Orfeu (1923). Estas obra são consideradas as mais importantes de sua produção poética. As Elegias representam a morte como uma transformação da vida e uma realidade interior que, junto com a vida, foram uma coisa única. A maioria dos sonetos cantam a vida e a morte como uma experiência cósmica. Rilke morreu no dia 29 de dezembro de 1926 em Valmont (Suíça).Sua obra, com seu hermetismo, solidão e ociosidade, chegou a um profundo existencialismo e influenciou os escritores dos anos cinqüenta tanto na Europa como na América.

26.10.06

...!!!???

Calma aí! Já não se podem dizer coisas sérias a propósito de uma brincadeira?

Para além de mim, quem?









A RTP lançou o anzol e o cardume acorreu. Milhares de respostas X 0,60 € = grande ajuda para as contas correntes! Esse foi o primeiro ganho da noite, parabéns!

Vi uma parte do programa da Maria Elisa, ontem. Gostei de muitas intervenções, fiquei a saber que aquilo já foi êxito noutros países ( caraças, 'tou sempre a leste destes acontecimentos mundiais), apreciei a forma como E. Lourenço "ignorou" a presença desse sempre em pé que é J. Hermano Saraiva ( Min. da Educação no outro tempo, quando havia polícia de choque dentro da universidade, a mando do dito senhor), enfim, «fiquei mais enriquecido».

Agora só me falta votar.

Mas... penso, cogito, escarafuncho nos miolos, e nada. Para além de mim, não encontro mais ninguém verdadeiramente grande em Portugal. E como só eu acredito nisto, não vou arriscar uma votação. Receio que seja mal entendido.
Vou esperar. A ver como é que os outros se desenrascam...

23.10.06

Outra vez escola




Não quero entrar num registo "corporativista" mas este também é um lugar de desabafos. Daí o que segue.

Parece-me que o problema do Estatuto da Carreira Docente é apenas financeiro: não é possível 150 000 professores atingirem o topo da carreira pois isso seria incomportável. Mais de 50% já lá estavam e muitos outros reformaram-se, nos últimos dez anos, com o último escalão.

Sendo assim ( e os números que tenho lido provêm dos mais diversos sectores), há duas ou três coisas que não percebo:

1 - porque é que a Ministra não diz isto claramente e manda o sr. Pedreira fazer malabarismos de linguagem que só confundem e não esclarecem?

2 - porque é que os anteriores ministros da educação do PS embarcaram ( e nós atrás deles... eles é que tinham os livros, eles é que sabiam...) no delírio de "tudo para todos"?

3 - porque é que nunca houve coragem para avaliar os professores de forma séria e credível, deixando que se estabelecesse uma avaliação desleixada, laxista?
Agora quere-se resolver tudo "à bruta" e doa a quem doer.


Pôr os professores na mira das armas do Min. da Educação é transmitir para a opinião pública a mensagem de que eles é que são o grande entrave para a melhoria da Escola Pública. Sem que nada se faça para ajudar a resolver o grave problema da indisciplina que grassa por muitas escolas, sobretudo as dos meios suburbanos.
Há escolas em que aos professores já quase só falta entrarem assim:



20.10.06

Onde não chove





O reverso da medalha...

Isto passa-se na Austrália, numa região onde não chove há cinco ou seis anos.

Onde estão os "anjos da guarda"?

Calma! O sol há-de regressar!








Podes cair, chuva. Há quem suspire por ti e não te sinta há muito tempo. Mas não exageres...

O sol virá de novo. Podes ir, então, cair p'ra outro lado.

(Fraco pretexto para rever este magnífico quadro de Hopper)

18.10.06

Lá fora, a tempestade






Um trovão medonho fez saltar o gato para cima do armário da cozinha.

Com trovões destes havia na minha terra uns brutamontes que resmungavam: "lá 'tão os gajos a desarrumar as cadeiras..."

Entretanto faço greve às aulas. Não concordo com o estilo sindical em uso. Mas também me vai faltando a paciência para a cara de pau da Srª Ministra da Ed.

Em Portugal mais uma vez acontece: do imobilismo para o voluntarismo de tudo querer fazer à pressa e à bruta.

Povo de arranques súbitos ... seguidos de longos períodos de sonolência.

Portanto, na dúvida... adiro à greve.

17.10.06

Os autaratarcas...

Aquele "prós e contras" sobre a Lei das Finanças Locais de ontem foi uma delícia. A Fátima Campos - que tem muita classe - se pudesse, mandava alguns daqueles convidados para Foz Côa, a fazerem desenhos na rocha com as cabeças duras.
Há um tal Ruas que é o presidente da Assoc. Nacional de Municípios. Saido de um filme dos anos 40, bigodinho e cabelinho pintado, parece uma caricatura de si próprio. E tem gente que o leva a sério.
E o outro que estava ao lado dele, tipo delegado de turma reguila, dentinhos a sobrar do ar de riso, a puxar ao simpático lá da rua? Alguém percebeu o que ele disse, para além da defesa ridícula da virtude de todos os autarcas, como se fossem uma corporação de anjos vindos do céu para nos protegerem dos demónios do Governo?

Eu já desconfiava que ser autarca podia ser uma doença. Agora fiquei com a certeza. Muitos autarcas, ( demasiados! ) portam-se como regedores analfabetos, incapazes de ver a realidade sem ser pelo estreito óculo da sua terrinha.

Hilariante aquela defesa cerrada do direito a endividarem-se, sem reconhecerem que esse é o grande problema que todos enfrentam quando são eleitos por uma lista diferente da que estava no poder. Não há dúvida, estão quase todos contaminados pela virose do soba madeirense!...

Em certa altura, já ia alta a madrugada, perdi a pachorra para aquela cegada.

O quê? Se gostei do ministro António Costa?

Gostei, sim senhor. Preparado, documentado, muito claro na exposição das ideias.

E mais não digo. Ainda me vão acusar de andar a dar lustro ao poder...

16.10.06

LUGAR ONDE | Outubro 2006 -- Semanário BADALADAS, Torres Vedras

REGISTO DE NASCIMENTO DE UM POETA

Que esperamos nós de um livro de poesia?

Em “REGISTO DE NASCIMENTO”, seu primeiro livro (Livrododia Editores, Torres Vedras, 2005) - Luís Filipe Cristóvão põe a questão ao contrário: o que espera o poeta do leitor? E responde: “os dedos longos do leitor, pela noite esticados, / têm válvulas de fogo imitando línguas / (…) o verdadeiro leitor passa os dias bebendo sangue / e adormece extasiado em qualquer parte do mundo. (…) ao não-leitor tudo isto é indiferente.”
Isto é: o poeta espera uma leitura longa, atenta; que nós, seus leitores, sejamos capazes de deixar passar (como válvulas) os tumultuosos e intensos rios de palavras e seus múltiplos sentidos (fogo imitando línguas); que ousemos mesmo matar a sede com a escrita de dor e sofrimento (sangue), numa cumplicidade comungada que nos conduzirá, onde quer que estejamos, a um estado apaziguado de êxtase. O contrário disto será a indiferença.
Trata-se pois de um pacto inicial que nos é proposto. A partir dele, os 61 poemas deste belíssimo livro desvendam a memória com seus vastos recantos - infância, patamares de crescimento, recordações dispersas, algumas dores – assumindo o escritor este trabalho como o lavrador que revolve a terra e nela se suja. Neste desvendamento cabem também “o crescimento pessoal e as dúvidas da literatura, experiências do pensamento”, propósitos de vida (subo devagar / não quero acordar o passado).
Mas atenção leitores: a poesia de LFC não se reduz aos sentidos imediatos e banais das palavras. Joga com ambivalências, relações subtis, em que as referências constantes ao quotidiano parecem facilitar a adesão do leitor para logo a seguir lhe propor tensões inesperadas que deixam campo aberto para múltiplas leituras. E esta é a marca de água da poesia de qualidade. Se detectamos, aqui e ali, soluções verbais menos conseguidas, há um evidente e esforçado trabalho de oficina, bem visível no despojamento nos 84 versos do muito belo poema final “Itinerários”. Em versos curtos, espraiando-se por 20 páginas, o poeta atinge aqui, em nossa opinião, o mais elevado nível de expressividade.
Este livro é, para nós, o atestado inequívoco da afirmação de um poeta, nascido e criado em Torres Vedras cujo percurso vale a pena seguir com atenção.

Foto de Vanessa Fernandes




NOTAS BIOGRÁFICAS

Luís Filipe Cristóvão nasceu em Torres Vedras a 24 de Fevereiro de 1979. Desde cedo muito dedicado aos livros, licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas e concluiu uma pós-graduação em Teoria da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Estando ligado ao associativismo, fez parte da direcção do Académico de Torres Vedras, tendo sido Presidente durante dois mandatos. Foi também no ATV que iniciou a sua actividade como editor, primeiro com a revista quase da qual saíram cinco números e, actualmente, com a revista sítio, da qual se apresta para sair o terceiro número.

A sua carreira literária iniciou-se com a publicação de poemas na revista universitária Os Fazedores de Letras e com as séries de crónicas ficcionadas “Viver prejudica gravemente a saúde” e “ O direito de não ler” no jornal Em Frente Oeste. Colaborou com a revista 365, com o DN Jovem e em diversos sites portugueses e brasileiros. Publica regularmente nos blogues
www.prazeresminusculos.blogspot.com e www.milnove79.blogspot.com. Em 2005 publicou o livro de poesia Registo de Nascimento, na Livrododia Editores, estando neste momento a preparar originais para publicação em 2007.
Desde o início do ano de 2005 é gerente da Livraria Livrododia, Lda, uma empresa que se tem dedicado à promoção do livro e da leitura a partir do concelho de Torres Vedras, tendo uma alargada agenda de actividades na livraria, onde no primeiro ano já estiveram presentes diversos autores como Mia Couto, Luiz Ruffato, Gonçalo M. Tavares e José Afonso Furtado, entre outros. Para além da livraria vem desenvolvendo actividades como leituras de poesia e organização de feiras do livro em escolas do concelho. No plano editorial, tem dado destaque aos autores torrienses: para além do próprio Luís Filipe Cristóvão, foram editados livros de Ana Meireles e Jaime Batalha Reis. Nos próximos meses serão publicadas obras de João Carvalho Ghira e Vítor-Luís Grilo.






POEMAS

semanário

esta semana comecei um poema que fala de chuva e despedidaschávenas de chá e borras de café, olhares quentes e políciase girassóis e livros e comboios e telefonemas com três palavrase versos e poemas e músicas e abraços e insistências várias.esta semana comprei uma máquina de fazer olhares sensuaise despi o meu casaco de senhor doutor para te dar as boas noitese peguei num boné que era do meu avô e gritei golo algumas vezese fui ver o sol nascer no mar do lado de lá do lado de lá de mim.esta semana encontrei-te na rua e disse-te adeus em duas ocasiõesdancei desajeitado no corredor da minha casa desarrumadalavei os dentes catorze vezes e tomei banho outras setedormi sempre pouco e sempre mal com calor e dores de garganta.esta semana pensei que podíamos ficar apaixonados para semprea música que eu ouvi na rádio poderia repetir em continuidadeos dicionários podiam ser peças de armários onde nos encontrássemosas férias são uma estrada comprida com curvas e garrafas de água.esta semana fui às compras e trouxe, em sacos de plástico, requeijãopão fresco manteiga chourição guardanapos fígado de porcopatê cervejas arroz doce salame salsichas alfaces iogurtespapel higiénico bolos secos e uma revista de palavras cruzadas.esta semana a minha mãe não me falou e a minha avó faz anostodos os jornais trazem na capa jogadores de futebol e bandeirinhasum pneu do meu carro estava vazio e eu enchi-o antes de ir ver-tenão me acabou a gasolina a meio do caminho e fiquei contente.esta semana tu foste embora para dentro de um livro que eu escrevie os meus versos longos ficaram cheios de pedacinhos de tieu sorrio ao ver crescer os meus filhos que ainda não nascerame entretenho-me a ver desenhos animados e a mudar de calendário


assume o escritor

assume o escritor a sua condição de lavrador
levando os joelhos a terra, deixando que os dedos
mergulhem no mar castanho onde nascem as videiras.
não se pense, no entanto, que lhe são desconhecidas
as distâncias entre a enxada e a caneta.
o que o escritor lavra, neste gesto repetido,
é a comunhão do homem com a terra.

13.10.06

Hoje também falo de política

A política, ao contrário do que diziam os desiludidos da pátria nos finais do séc. XIX, não é a "grande porca". Ela é o mais nobre território do colectivo social porque é a organização da vida em comum. Alguém tem de se ocupar disso. E se são os menos aptos a fazê-lo é porque os mais aptos o permitem. E se estes o permitem por muito tempo, deixam de ser aptos porque se tornam ineficazes.
Penso nisto quando ouço as críticas ao actual governo. Elas tanto vêm da esquerda como da direita, o que pode significar uma coisa: este não é um bom governo para quem tem uma visão parcelar das coisas.
O grande problema é só um: o Estado não tem dinheiro suficiente para os encargos que todos nós lhe atribuímos e dele esperamos. E corta nas despesas. Só isso.
- Olha a novidade! Mas se não há dinheiro é porque o Estado não vai buscá-lo a quem o tem: os ricos, os bancos, as grandes empresas...
Pois é. Mas quem assim fala esquece que o problema central da sociedade capitalista em que vivemos é o de que o dinheiro não tem pátria, é volátil. Esquece que no tempo em que o dinheiro era físico, o rei podia tomar conta dele à força. Agora não. O dinheiro não existe, só existe o se estatuto social. Ele é um bem volátil, fugidio, que corre o mundo, em fuga, quando acossado por qualquer Estado.
Max disse com toda a razão: contra o capital sem pátria, só o proletariado internacionalmente organizado pode lutar. Fez-se a tentiva que, infelizmente, foi um fracasso.
Nas condições actuais Max diria: contra o capital sem fronteiras, só pode lutar um Estado dos cidadãos, também sem fronteiras. A União Europeia poderia ser o princípio disso mas os nacionalismos estreitos e curtos de vista não o entendem. Por isso ela não avança.
Sócrates governa bem?
Mas quem pode governar bem um país que estava à beira da bancarrota?
E depois da triste figura que fizeram Durão Barroso e Santana Lopes, depois da boa vontade generosamente inconsciente das consequências que foi Guterres, quem acredita que alguém da oposição possa fazer melhor?
Jerónimo de Sousa?
Marques Mendes?
Louçã?
Paulo Portas?
As manifestações são uma prova de cidadania e civismo. Mas alguém acredita que as suas razões se aguentam perante o estado a que chegou a nossa economia?
Os nossos gestores são um problema, é verdade. Mas que pode fazer o Estado? Mandá-los prender todos?
Isto não tem solução?
Se calhar não. Eu pelo menos não faço ideia nenhuma. E depois de ver o estrondoso fracasso da União Soviética - em que cheguei a acreditar, há muitos anos atrás! - não sei mesmo.
A não ser que se caminhe para o tal Estado Internacional dos cidadãos. E aqui já estou na utopia.
Pode ser que, daqui a 500 anos... ou mesmo 1000...

11.10.06

A MORTE DA ÁGUA







Perante estas imagens da foz do Cávado, em Esposende, fui à procura de um texto de Ruy Belo de que me lembrava. Encontrei-o muito perto d'aqueloutro que a Avelaneira Florida me oferecera há poucos dias num dos seus atentos comentários. Este texto pertence ao belíssimo livro de Ruy Belo, HOMEM DE PALAVRA(S).

Um dos passeios que mais gosto de dar é ir a esposende ver desaguar o cávado. Existe lá um bar apropriado para isso. Um rio é a infância da água. As margens, o leito, tudo a protege. Na foz é que há a aventura do mar largo. Acabou-se qualquer possível árvore genealógica, visível no anel do dedo. Acabou-se mesmo qualquer passado. É o convívio com a distância, com o incomensurável. É o anonimato. E a todo o momento há água que se lança nessa aventura. Adeus margens verdejantes, adeus pontes, adeus peixes conhecidos. Agora é o mar salgado, a aventura sem retorno, nem mesmo na maré cheia. E é em esposende que eu gosto de assistir, durante horas, a troco de uma imperial, à morte de um rio que envelheceu a romper pedras e plantas, que lutou, que torneou obstáculos. Impossível voltar atrás. Agora é a morte. Ou a vida.

9.10.06

O mais é nada...






Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!



Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
e cala. O mais é nada.

(Ricardo Reis)

6.10.06

Ah! Outono lindo...


(...)
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.
( Natália Correia)

1.10.06

Alguém, bem longe...






De Timor, Ana V. envia um SMS desesperado e lúcido.
Mergulhado na incerteza, procuro Ruy Belo. Leio:



Mas tudo é apenas o que é
levanta-te do chão põe-te de pé
lembro-te apenas o que te esqueceu

Não temas porque tudo recomeça
Nada se perde por mais que aconteça
uma vez que já tudo se perdeu


Daqui a Timor vai a ponte de um enorme abraço de solidariedade!