1.11.22

4ª AULA - 3 NOVEMBRO 2022

 

ALMEIDA GARRETT - fundador da nossa modernidade



. Análise aos textos enviados pelos participantes

. Introdução ao novo tema: "Almeida Garrett, fundador da nossa modernidade" (Página LUGAR               ONDE  de 28 / 01/ 2005 )

. Contextualização histórica: a época de A. Garrett


DESAFIO:

        - Que recordações (palavras ou ideias) associa ao nome de Almeida Garrett?

        - Qual ou quais as informações do texto principal que considera mais relevantes?

        - Vamos ler as VIAGENS NA MINHA TERRA?

    

3ª AULA - 26 OUTUBRO 2022

 

. Voltamos aos poemas de Fernando Fabião: leitura e diálogo sobre eles

. Contributo dos participantes: uma ou duas palavras suscitadas pela leitura de cada poema

. Dossier com poemas e colagens de Fernando Fabião



DESAFIO TPC:

        escrever texto com a expressão "há um lugar onde".



26.10.22

2ª AULA -- 19 OUTUBRO 2022






1 - Ainda o título LUGAR ONDE
        
       . Referência à obra completa de Ruy Belo (1933-1978). Pequena homenagem ao poeta.
       . Leitura dos dois poemas "Portugal Sacro-Profano", do livro "Homem de Palavra(s)"

2 - A página do jornal BADALADAS (fotocópia previamente distribuída aos participantes): mensal,             com início em 19 de Julho de 2002.

    . Diálogo sobre o texto inicial "Interruptor"
    . O poeta torriense Fernando Fabião
    . Leitura do primeiro poema "Um lugar"





10.10.22

NOVA ETAPA OUTUBRO 2022

 





A partir de hoje 10 de Outubro de 2022, este espaço registará o que for acontecendo nas aulas da disciplina LUGAR ONDE /escritas e dizeres que vou ministrar na AUTITV (Associação para a Universidade da Terceira Idade de Torres Vedras) no ano lectivo 2022 / 2023..

30.3.20

MÉCIA DE SENA - O ESTEIO DE UM GRANDE ESCRITOR




(Jornal PÚBLICO  30/03/2020)

Uma longa vida dedicada à obra de Jorge de Sena

Mécia de Sena 1920-2020. Sem a sua persistência e rigor, a dimensão pública da obra de Jorge de Sena seria hoje consideravelmente menor. Morreu em Los Angeles. Fizera cem anos há duas semanas
Jornal PÚBLICO 30 Março 2020 ( Obituário: Luís Miguel Queirós)

A mulher de Jorge de Sena, Mécia de Sena, morreu anteontem em Los Angeles, na Califórnia, com cem anos completados no passado dia 16. Foi uma figura tão relevante quanto singular na cultura portuguesa contemporânea, já que o essencial do que lhe devemos não é uma obra em nome próprio, mas o seu persistente e rigoroso trabalho de décadas a organizar para publicação, prefaciar e anotar os livros ou materiais dispersos que o marido deixou inéditos à data da sua morte prematura, em 1978, a começar por essa obra-prima do romance português que é Sinais de Fogo (1979), e incluindo volumes de poemas como Sequências (1980) ou Visão Perpétua (1982), entre vários outros, e ainda teatro, traduções de poesia estrangeira, livros de contos, e um extenso conjunto de volumes de ensaios. 

Sem a devoção e o labor de Mécia de Sena, que não se resumiram à organização e edição de textos, mas abarcaram também um constante trabalho de persuasão junto das editoras portuguesas e incansáveis esforços para interessar novas gerações de universitários pela obra de Jorge de Sena, quer a dimensão da obra já publicada, quer a atenção que lhe foi sendo prestada pelos meios académicos, seriam hoje provavelmente mais reduzidos. A Mécia de Sena se deve ainda a edição de diversos volumes de correspondência travada por Sena com autores como Guilherme de Castilho, José Régio, Vergílio Ferreira, Eduardo Lourenço, Sophia de Mello Breyner Andresen, José-Augusto França, Raul Leal ou António Ramos Rosa. “Foi muito pioneira em Portugal, onde a pouca correspondência que se publicava se limitava geralmente às cartas enviadas ou recebidas”, diz o poeta e ensaísta Jorge Fazenda Lourenço, durante muitos anos o principal colaborador de Mécia de Sena, lembrando que esta “procurou sempre dar o diálogo dos dois correspondentes, o que exigiu um trabalho imenso para convencer correspondentes a ceder as cartas, além da tarefa ciclópica de as transcrever num tempo em que não havia Internet nem digitalização de documentos, e sem um computador, que nunca teve”. 

Um dos primeiros volumes de correspondência que publicou, em 1982, foi uma selecção das cartas que ela própria trocara com o marido — Isto Tudo que nos Rodeia (Cartas de Amor) –, uma escolha muito restrita do intenso carteio do casal, garante Fazenda Lourenço, já que Mécia terá então receado que “a grande abertura do diálogo entre eles pudesse levar a que o livro fosse recebido com algum escândalo”. Trinta anos mais tarde, em 2012, sairia um volume organizado por Otília Lage com cartas do período em que Sena permaneceu no Brasil, entre 1959 e 1965. Mas Sena e Mécia escreveram-se constantemente, desde os tempos de namoro até à morte do escritor. “Se o Sena dava um salto a Nova Iorque, escrevia à Mécia todos os dias para Santa Bárbara, e o mesmo quando estavam no Brasil, se ia a S. Paulo ou ao Rio de Janeiro”, conta ainda Fazenda Lourenço. E diga-se que muitas das cartas de Mécia de Sena são francamente notáveis, e deveras desassombradas para os costumes da burguesia portuguesa da época. Quando alguém se propuser prosseguir o pioneiro trabalho iniciado por Andrée Crabbé Rocha no volume A Epistolografia em Portugal, será da mais elementar justiça que não se esqueça de Mécia de Sena. Além das cartas, Mécia de Sena prosseguiu uma espécie de diálogo com Jorge de Sena num conjunto de fragmentos a que chamou Flashes, e que continua inédito, salvo dois ou três dispersamente publicados. “É uma coisa muito interessante e que tem mesmo valor literário e merecia ser editado”, assegura Fazenda Lourenço, que enaltece ainda a hospitalidade com que esta recebia na sua casa de Santa Bárbara os investigadores que estudavam a obra do marido. “Era de uma generosidade extraordinária: a casa às vezes parecia mais um centro de estudos de Jorge de Sena; às vezes, éramos para aí uns 20 e ela cozinhava para toda a gente”. 

Oriunda de uma família culta e melómana — o pai, Armando Lopes, que usava o pseudónimo Armando Leça, era um conhecido músico e folclorista, a mãe, Irene Freitas era uma talentosa violoncelista, e um dos seus irmãos foi o professor e historiador da Literatura e linguista Óscar Lopes —, Mécia de Freitas Lopes nasceu em Leça da Palmeira, Matosinhos, no dia 13 de Março de 1920. Licenciada em Ciências Histórico-Filosófias pela Universidade de Lisboa, completou ainda o curso do Conservatório do Porto e durante alguns anos deu aulas no ensino secundário. Casou-se com Jorge de Sena em 1949, no Porto, após um longo noivado. Tiveram nove filhos. Para ajudar os proventos domésticos, sempre parcos para tão extensa prole, foi tendo várias ocupações, incluindo a tradução. Desde meados dos anos 50 até ao final da década seguinte fez a revisão de numerosas traduções, sobretudo para a editora Livros do Brasil, e traduziu ela própria autores como Jean Cocteau ou Blaise Cendrars, a par de muitas outras obras de diferentes géneros. Além destes trabalhos, que assinava Mécia Freitas Leça, ou apenas Freitas Leça, associando o apelido de solteira ao pseudónimo usado pelo pai, terá ainda colaborado, a julgar por certas passagens da sua correspondência, em traduções que Jorge de Sena fez de romances ingleses e americanos. “Merecem ser vistos como um par importante da cultura portuguesa”, diz Fazenda Lourenço, observando que “sempre se consideraram como iguais” e que, desde o início, “Mécia teve uma intimidade muito grande com a obra de Jorge de Sena”. O que, após a morte do marido, lhe permitiu assumir “com uma grande naturalidade”, argumenta, o plano de publicações que este deixara mais ou menos alinhavado. Hoje é a filha Isabel que assume o papel de guardiã da obra do pai.
Uma opção que terá provocado algumas reservas. “Foi vítima da misoginia lusitana”, diz Fazenda Lourenço. “Ouvia dizer, nas costas dela, que devia ter deixado a edição da obra a um professor da Faculdade de Letras — um homem, claro, que era o que estava implícito”.
(lmqueiros@publico.pt)


9.1.19

TRÁGICAS INTERROGAÇÕES...




(...)

Quem nos deu asas para andar de rastros? 
Quem nos deu olhos para ver os astros 
- Sem nos dar braços para os alcançar?!... 

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor" 

5.7.18

OS DIAS



"Olha os dias e diz-me: porventura alguém
venceu o tempo que só vive de vencer-nos?"

(Ruy Belo, Transporte no tempo)

2.7.18

ROSA DE PEDRA

(Rosácea da Igreja de Santa Clara, Santarém. Foto J. Moedas Duarte)

Rosa de Pedra

     Primeiro livro de Zila Mamede, apareceu em 1953. Classificado pela autora como “intuitivo”, no qual muitos apontaram “os pecados do principiante”, foi considerado como “um dos melhores livros de versos brasileiros” por ninguém menos que Manuel Bandeira.


SONETO TRISTE PARA MINHA INFÂNCIA

De silêncios me fiz, e de agonia
vi, crescente, meu rosto saturado.
Tudo de mágoa e dor, tudo jazia
nos meus braços de infante degredado.

Culpa não tinha a voz que em mim nascia
pedindo esses desejos - sonho ousado
por onde o meu olhar navegaria
de cores e de anseios penetrado.

Buscava uma beleza antecipada
- a condição mais pura de harmonia
nessa infância de medos tatuada,

querendo-me em beber de inacabada
procura que, em meu ser, superaria
a minha triste infância renegada.



27.3.18






«E agora a morte não existe. Deus não existe, a vida eterna não existe. Uma luzinha e depois a escuridão!» 
(Raul Brandão, Húmus)

26.3.18

ARQUIMEDES DA SILVA SANTOS




A Universidade de Lisboa, sob proposta do Instituto de Educação, vai atribuir o grau de Doutor Honoris Causa a Arquimedes da Silva Santos, no próximo dia 27 de Março e 2018, pelas 11h30, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa.
 Arquimedes da Siva Santos é apadrinhado pelo Prof. Sampaio da Nóvoa.


ARQUIMEDES DA SILVA SANTOS (n. 1921)
(Nota biográfica divulgada pela UL)

Cidadão antifascista, preso político torturado pela PIDE e condenado pelo Tribunal Plenário da Ditadura do Estado Novo, é um poeta, professor e pedopsiquiatra. Um homem de grande craveira intelectual, multidimensional, com intervenção em diferentes áreas: cívica, política, artística, científica e educativa. Propôs um conceito, ao seu tempo inovador, de relação entre a Pedagogia e a Arte. Foi na área da Pedagogia que mais se destacou no Centro de Investigação Pedagógica do Instituto Gulbenkian de Ciências, na Escola Superior de Educação pela Arte do Conservatório Nacional de Lisboa e na Escola Superior de Dança. Foi sempre um mediador entre a Arte e a Educação, colocando a Arte ao serviço da criança através da teoria da Educação pela Arte.
A sua obra divide-se entre a Poesia - com o seu primeiro livro Voz Velada em 1957, e Cantos Cativos ( três edições) - e a Ensaística, essencialmente no campo da Psicopedagogia e da Educação pela Arte.

1. Nasceu na Póvoa de Santa Iria, em 28 de Junho de 1921. Devido às exigência profissionais do pai (funcionário da Junta Autónoma das Estradas), frequentou escolas em Estarreja, Salreu e Ourém. Fez o 1º ano do liceu em Santarém e foi viver para Vila Franca de Xira, com uma família evangélico-cristã, enquanto a sua (com quem convivia apenas aos fins de semana) tinha residência em Coruche. Entre 1933 e 1939, frequentou um colégio em Vila Franca de Xira (VFX) destacando-se no gosto pela Literatura e iniciando aí a sua actividade de escrita poética. A guerra Civil de Espanha, o assassinato de Lorca e a Revolta dos Marinheiros em Portugal tornaram-se acontecimentos determinantes nas suas inquietações e reflexões políticas, sendo então expulso da Mocidade Portuguesa (de que tinha sido um quadro). A partir de 1939, frequenta o liceu Passos Manuel, em Lisboa, e contacta com outros poetas, artistas e escritores, aproximando-se do grupo de Alves Redol (mais tarde designado por Grupo Neo-realista de VFX). Nele busca incentivo para a sua intervenção em futuras actividades culturais: escreve em periódicos como o Sol Nascente, O Diabo, Mensageiro do Ribatejo, e participa em conferências, dá cursos em colectividades. Com Soeiro Pereira Gomes e Carlos Pato, colabora no 1º volume da 1ª obra colectiva do Movimento Neo-Realista: «Contos e Poemas de Modernos Autores Portugueses, 1942». O convívio em Vila Franca de Xira estreita-se com outros jovens intelectuais antifascistas, nomeadamente nos históricos «passeios no Tejo», que se realizam entre 1940 e 1942 (1).

2. A família desloca-se para Coimbra, ele acompanha-a e inicia o Curso de Medicina da Universidade de Coimbra. Paralelamente, entra para o PCP e desenvolve actividades políticas no sector intelectual de Coimbra do PCP e no MUD Juvenil. Integra-se no grupo de teatro TEUC, é encenador, actor, tradutor e chega a ser presidente da sua direcção. Em 1945 sai do TEUC e liga-se ao Ateneu de Coimbra, onde, até 1949, dinamiza um leque diversificado de actividades culturais. Envolve-se na campanha de Norton Matos para a Presidência da República (1949) e é detido pela PIDE. É torturado, enviado para as prisões do Aljube e de Caxias, e levado a julgamento em Tribunal Plenário. Aguarda o julgamento durante um ano, sempre incomunicável, e acaba por ver ser-lhe aplicada uma pena de 18 meses de prisão, com perda de direitos políticos durante 3 anos. Entretanto, todos os seu escritos poéticos são apreendidos. Em 1950, casou-se na cadeia, por procuração, com Maria Luísa Duarte (ele em Caxias, ela em Coimbra). Depois da sentença, foi autorizado a terminar a licenciatura em Medicina e a fazer estágio, com a determinação da obrigatoriedade de, regressar ao Aljube, para cumprimento da parte restante da pena, o que aconteceu em 1952. Tomou conhecimento, nessa altura, da sua expulsão do PCP, numa edição do jornal clandestino do partido O Militante. Quando terminou a pena e saiu em liberdade, viu-se impedido de exercer Medicina em todos os organismos do Estado. Faz então o Curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra e realiza estágios gratuitos (sem receber vencimento) na especialidade de Psiquiatria Infantil, em diversos hospitais do País. Em 1956, adquire nova formação em Psiquiatria Infantil, em Portugal e França [1960, irá entrar no quadro de especialistas em Neuropsiquiatria da Ordem dos Médicos]. A sua escrita prossegue e, por essa altura, colabora em vários periódicos, nomeadamente Vértice e Gazeta Musical.

3. No final da década de 50 regressou à Póvoa de Santa Iria, onde passou a residir, e retomou a escrita poética com Voz Velada, publicada nas Edições Vértice, em 1958. Em 1960 inscreveu-se no Curso de Filosofia, na Faculdade de Letras (Lisboa). Em 1962 foi-lhe concedida pelo Governo francês uma bolsa de dois anos, para frequência, na Sorbonne, de estudos especializados em Pedopsiquiatria e Psicopedagogia. Em Paris, inscreve-se então na disciplina de Educação Estética da Criança, e toma contacto com questões de "Pedagogia e a Arte". É durante essa estada em Paris que, em contacto com Breda Simões, seu amigo de Coimbra, este o convidou para integrar o Departamento de Psicologia do Centro de Investigação Pedagógica do Instituto Gulbenkian da Ciência, do qual BS era Director. Entre 1965 e 1974 Arquimedes da Silva Santos foi assistente/investigador deste Centro, desenvolvendo estudos na área da Psicopedagogia das Expressões Artísticas; deu formação pedagógica a monitores de Serviços de Música e Museus; leccionou a disciplina de Psicopedagogia da Expressão Artística. Abriu caminho para a criação dos cursos de Professores de Educação pela Arte e Professores do Ensino Artístico. Foi Presidente do Conselho Pedagógico da Escola Superior de Educação pela Arte e nela leccionou várias disciplinas (2).
Em 1981 a Escola Superior de Educação pela Arte é extinta e, em 1983, Arquimedes Silva Santos foi aceite no quadro transitório da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa, onde ficou até se aposentar. Foi professor-coordenador e Presidente do Conselho Artístico Pedagógico, até 1999. Durante as décadas de 80 e 90 continuou a ministrar cursos no Centro Artístico Infantil do ACARTE – Fundação Calouste Gulbenkian.

4. Tendo tido grandes laços de amizade e cumplicidade com Alves Redol, Arquimedes da Silva Santos honrou essa memória lutando pela criação de um Centro de documentação e investigação do Neo-Realismo. Em 1988 foi, assim, membro fundador da Comissão Instaladora do Museu do Neo-Realismo e, dez anos depois, Vice-Presidente da Assembleia Geral da Associação Promotora do Museu - Museu que se encontra a funcionar em Vila Franca de Xira, onde nasceu Redol e a sua memória prevalece viva.

      Museu do Neo - Realismo, Vila Franca de Xira

Arquimedes da Silva Santos participou no filme de António Reis e Margarida Cordeiro “Rosa de Areia”(1988) [com um personagem hierático, de cabeleira branca e olhar de sonho, sempre a procurar ver para além do horizonte].
Na sua assinalável obra poética, há alguns poemas cantados (por Luís Cília, por exemplo), estando a maior parte reunida em "Cantos Cativos-poemas Coligidos:1938-58". Arquimedes da Silva Santos, Campo das Letras (2003).

Outras obras publicadas:

Testemunho de Neo-Realismos. Campo das Letras.
Perspectivas Psicopedagógicas, 1977.
Aspectos psicopedagógicos da actividade lúdica (1991). Lisboa: Instituto de Apoio à Criança, (Cadernos IAC, 3).
Do método de João de Deus à formação de educadores de infância (1986). Lisboa: Escola Superior de Educação João de Deus.
Mediações artístico-pedagógicas (1989, imp.). Lisboa: Livros Horizonte, (Biblioteca do educador, 114). MNR SNT/Ens/0068
Mediações arteducacionais (2008). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Estudos de Psicopedagogia e Arte. Campo das Letras.
Da Família à Escola. Campo das Letras.

5. A Câmara de Vila Franca de Xira ergueu uma estátua em sua homenagem, e o seu nome foi dado a uma Praça na Póvoa de Santa Iria.
Arquimedes da Silva Santos foi agraciado pela Presidência da República, em 1998, com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e, em 2001, com a Grã Cruz da Ordem da Instrução Pública.

Em 2007/ 2008 teve lugar, no Museu do Neo-Realismo (VFX), uma mostra sobre a vida e obra do poeta: ARQUIMEDES DA SILVA SANTOS - SONHANDO PARA OS OUTROS (3).
Em Maio de 2015 a Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo realizou uma conferência, integrada no «Ciclo Grupo Neo-Realista e geração seguinte - Arquimedes da Silva Santos», com intervenções de Fernando Martinho e Maria Emília Brederode Santos

Em 18 de Junho de 2015, dia em que Arquimedes da Silva Santos fez 94 anos, a Associação Lopes Graça levou a cabo uma sessão de homenagem, que decorreu em Almada, no Fórum Romeu Correia.

Notas:

(1) Soeiro Pereira Gomes fala da amizade de ambos: «Encontro-me na casa do Arquimedes [da Silva Santos], na Póvoa. (…) peço e obtenho esclarecimentos: os passeios pelos montes atrás de Vila Franca a ler o Manifesto Comunista deram-se em 1941, depois de se ter constituído um Comité Regional das Juventudes Comunistas; o primeiro passeio de barco foi no Verão de 1941; antes de Junho de 1941 com Soeiro falavam mais em coisas literárias. O poeta continua a falar daqueles tempos e mostra-me fotografias antigas e, entre outras, uma do passeio de barco em que aparecem, além dele próprio, Pereira Gomes, Manuel Campos Lima, Rui Grácio, Cândida Ventura, Álvaro Cunhal, Dias Lourenço, Aniceto Monteiro, Piteira Santos, Guilherme Morgado...». - Soeiro Pereira Gomes, Uma Biografia Literária, páginas 121-123, in http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/…/os-passeios-no-…

(2) No Centro de Investigação Pedagógica procuravam soluções para as dificuldades escolares, sobretudo de origem emocional e afectiva. Recorriam, entre outras, a técnicas de reeducação da linguagem e da expressividade da criança, utilizando técnicas de pedagogia curativa que implicavam relação com a música, o drama, o movimento e as artes plásticas. Foi ai que foi tomando forma a criação de uma Psicopedagogia da Expressão Artística, num primeiro tempo, dando origem, depois, ao sonho de uma Reeducação Expressiva ou uma Arte-Terapia. Sobre estas actividades, Arquimedes Silva Santos disse: “Eu tinha a formação de pedopsiquiatra e vi que a melhor maneira, do ponto de vista educativo, de agir na vida das crianças com dificuldades era através das expressões artísticas, quer seja da música, das artes plásticas, da psicomotricidade, da dança, do drama, etc. …” . E ainda: “Fui um professor amador que, de algum modo, se profissionalizou. … como livre pensador e como franco atirador pude fazer aquilo que achava que devia ser. … Dava liberdade aos meus alunos para podermos fazer as coisas de maneira a enriquecermo-nos, a encontrarmo-nos, a sermos. A minha linha de acção era essa. Não era o saber, o ter, era exactamente o ser”. - Entrevista à revista “Noesis” – nº 55-Julho/Setembro 2000.

Arquimedes da Silva Santos defende a Educação pela Arte, a arte integrada no quotidiano das escolas, desde o pré-escolar, conjugando a pedagogia, psicologia e expressões artísticas. Tem um papel pioneiro e de reflexão em várias associações e organizações ligadas à Arte-Educação e à Intervenção Artística, como o Instituto de Apoio à Criança, Movimento Português de Intervenção Artística e Educação pela Arte Associação Portuguesa de Educação pela Arte.

(3) Do catálogo da exposição: «Esta mostra procura reapresentar a imagem maior desse poeta que serenamente nos conduz entre a metáfora e a mensagem social e política, de nenhum modo ficou esquecida a vida admirável de um homem que fez da medicina, da clínica geral à especialização na área da pedopsiquiatria, uma acção de humanidade e comunhão, dando aos outros o melhor de si.»

31.7.15

O "irmão corpo" da minha tia Ana


A tia Ana era irmã de meu pai. Camponesa, olhadeira da igreja paroquial de S. Vicente do Paul (Santarém), não tendo casado optou por consagrar a sua vida ao ideal franciscano. Pertencia à Ordem Terceira.
Uma manhã, em Alpiarça, onde por vezes nos visitava e se demorava alguns dias, respondeu-me assim, quando lhe perguntei se tinha dormido bem:
- Custou-me muito a adormecer, estranhei a cama. Mas quando isto me acontece eu digo assim:"Olha, irmão corpo, pus-te em posição horizontal, estás numa boa cama, tens roupa... se não dormes eu não tenho a culpa..."
- E depois, se não vem o sono, o que é que a tia faz?
- Eu fico à espera e vou rezando...- e o seu rosto abriu-se num sorriso de bondade.

Anos depois contei esta história à minha amiga Maria Laura Madeira. Mulher de  prosas e versos saborosos, passados dias ofereceu-me este soneto:


"IRMÃO CORPO" (dedicado à autora desta expressão)

Irmão corpo dorido e insubmisso
Já não sei se te quero se te aguento
O que tens por viver é pensamento
Debandas, e eu às vezes dou por isso

Está minada a raiz do compromisso
Se te deito tens medo do momento
Em que o sono te leve ao esquecimento
E não saibas voltar ao teu serviço

Que medo é esse à Fé que não renegas
Irmão corpo, se aos poucos tudo entregas
Do espólio tão terreno que tiveste

Leva-me duma vez ao meu destino
Tu foste só um pobre peregrino
Deixa sem pena as penas que me deste


Isto foi em 1997. Revi agora o poema na pequena edição que a Maria Laura distribui pelos amigos com o riso límpido com que  sublinha as suas dádivas.
Obrigado, Maria Laura.


27.7.15

NO LIMIAR DO MUNDO DE MARIA GABRIELA LLANSOL





Página a publicar no semanário BADALADAS no próximo dia 31 de Julho 2015.





“Sobre a sua ligação a Maria Gabriela Llansol e ao seu texto escreveu um dia José Augusto Mourão (e lembro-me de ter ouvido essas palavras da sua boca, num dos nossos encontros):
«Sou um legente que escreve desde há uns anos já sobre Maria Gabriela Llansol com o sentimento de ter sempre vagueado por uma inextricável linha de costa, portanto sem ter a presunção de alguma vez ter chegado a um terminal de mundos, sabendo que das ruínas da biografia não se pode erguer uma estátua, temendo ademais, e como Témia, a impostura da língua, fiado apenas na 'cordialidade' do sentido (Tauler), no puro amor do 'há', na equivalência entre estética e ética, nada sabendo em definitivo, apenas entrevendo. Sabe-se que se é legente quando o júbilo de existir e o ler se tocam.» | João Barrento “

Foto: J Moedas Duarte




Autógrafo de Maria Gabriela Llansol: "Para Virgílio Ferreira - meu companheiro na geometria da terra prometida". (in: http://espacollansol.blogspot.pt/ - post de 7/6/15.


..........................................................................

______________ nada é mais rápido do que a melancolia; é traiçoeira no ataque, inopinadamente ressurge diante dos olhos, e o turbilhão é tal que se extingue sem linhas precisas. O facto principal, determinante, é que a nossa forma, a forma com que somos receptivos ou agimos, é um corpo, todo o afecto nasce, perdura e se extingue nessa forma; a separação física dos corpos pode ser, por vezes, o facto mais notável: aquele contra o qual o conceito perde força e paciência. De nada me vale querer ser razoável. Quando me dou à nostalgia, é triste de morrer. A realidade da dor, até desejar a morte, não está na separação física (de que é feita a maior parte da vida senão de ausências presentes?) mas no simples efeito de imagens que não se sobrepõem. Não vou perguntar: “quem falta?” Sou eu que falto, o fragmento por que suspiro, e que está suspenso fora de mim. Eu queria ser ele, sem poder, como ____ como um resto de frase que se esquece | 

Maria Gabriela Llansol, Inquérito às Quatro Confidências. Lisboa: Relógio d´Água, 1996.



3.1.15



NÃO TE ESCREVAS
entre os mundos,

ergue-te contra
a variedade de sentidos,

confia no rasto das lágrimas
e aprende a viver.

Paul Celan,
A MORTE É UMA FLOR,
Livros Cotovia, 1998

Foto J. Moedas Duarte


29.9.13

ELEIÇÕES , HOJE

«Só há três maneiras de viver neste mundo: ou bêbado, ou apaixonado ou poeta» (Cit. por M. Cesariny, A Phala, 1, 2007)

Eleições quando estamos atascados no Euro! 
Farsa inútil e perigosa.


19.9.13

LUGAR ONDE


... me sentar. Como um príncipe destronado.

É ali em cima, no Senhor do Calvário (Matacães, Torres Vedras). Um lugar a visitar nas Jornadas Europeias do Património, Domingo, 22 de Setembro.

16.9.13

FULGOR




Fogo, fulgor
das veias fatigadas
subindo à pedra; à luz;
a neve
pode cair;
estrutura imóvel refractando
que chama interior?
petrificando que mineral humano
apenas esboçado?
nenhuma eternidade
se concebe melhor;
nenhuma estrela;
nenhum fulgor perseverante
como o deste cristal.



Foto J. Moedas Duarte, Serra de Montejunto
Poema: Carlos de Oliveira, in ENTRE DUAS MEMÓRIAS


10.8.13

REQUIEM POR URBANO TAVARES RODRIGUES


Nos finais dos anos 80, em data que não sei precisar, Urbano T Rodrigues veio a Torres Vedras, para apresentação de um livro, numa iniciativa da Cooperativa de Comunicação e Cultura de cuja Direcção eu fazia parte. Nesta foto ele está junto da nossa saudosa Amélia Antunes - falecida em 1994 - e apresta-se a receber mais um livro para autografar.
No dia do falecimento do grande escritor - 9 de Agosto corrente - lembrei-me desta foto que tinha guardada num livro. Com ela veio a recordação desse dia, marcado pela afabilidade de Urbano. Era um homem doce, sorriso de menino, voz serena, sem pose nem atavios. Aquele era o grande e amado professor universitário,  da Fac. de Letras de Lisboa. Que foi proibido de dar aulas pelos esbirros do regime. Que se inscreveu no Partido Comunista Português por uma questão de Humanismo e de eficácia na luta contra a ditadura de Salazar. Que foi preso político e perseguido como mal-feitor. 
Aquele era o autor de livros que líamos às escondidas: A Porta dos Limites, Bastardos do Sol, Os Insubmissos, Uma Pedrada no Charco...
Nós sabemos, Urbano, já não eras novo. Fazias parte de uma geração de ouro da nossa Literatura de que eras o último sobrevivente: David Mourão-Ferreira, Augusto Abelaira, Judite de Carvalho, Manuel da Fonseca... Deixas uma obra vastíssima, traduzida em muitas línguas, mas deixaste de ser lembrado pela república portuguesa das Letras, sempre pronta a erigir novos talentos. Ficaste para trás, não por seres escritor menor mas porque foste fiel aos princípios: que coisa mais fora de moda, um escritor comunista! Talvez por isso te passou ao lado o Prémio Camões, que bem merecias.




Contudo, não estavas esquecido. O livro "50 anos de vida literária", publicado pela ASA em 2003, traça o teu percurso brilhante e recorda-te em fotos que já são da nossa História comum. Relei-o agora, devagar, homenagem à tua memória.




Este último livro que publicaste, no ano passado, pareceu-me uma premonição do fim. A última página:
«Mas a sua partida, só a concebia em glória, ainda não descobrira como.Veio a chuva doce de abril, com o arco-íris enlouquecendo de cor cerros e vales.
Octávio apelou então a todas as energias que lhe restavam e apanhou um táxi, que o deixou, como ele queria, junto ao Pireu.
Aí, no alto da rocha, olhou para a baía em baixo, o mar pro­fundo, onde haveria ainda restos da estatuária helénica.Despiu-se e atirou-se em voo para a morte.
Desceu muito, muito fundo, mas ainda vislumbrava, à sua volta, grutas, peixes, cintilações misteriosas.
Não queria voltar à tona de água.Os seus pulmões encheram-se de morte.
E Octávio descansou.»
in: Escutando o Rumor da Vida, Ed. D. Quixote, Alfragide, 2012

Guardarei sempre o teu testemunho nestas palavras tão simples e tão intensas:

«Comecei a escrever para me encontrar, me procurar a mim próprio, e aos outros, e à vida, e ao destino. Fi-lo por inquietação, inquietação que tinha tanto a ver com a literatura como com a metafísica e com o social. Tomei, desde muito cedo, consciência da injustiça social que via à minha volta no Alentejo, para onde fui viver em criança, e depois no País e no mundo.»

Entrevista a Fernando Dacosta, in "Visão", 21 Novembro 2002



6.8.13

«Saíram todos, fiquei só em casa»



Quando o silêncio me chamar
Que eu ouça
Que onde ele me levar
Eu entre
Que se puder falar
Alguém responda

Ninguém será o último
A chorar
E a vida é como o mar
Refaz-se em cada onda

Maria Laura Madeira


Foto: J. Moedas Duarte, Porto Novo

27.7.13

RELEITURAS E RECORDAÇÕES



Há livros que só entendemos muitos anos depois da primeira leitura. Era eu rapazito e frequentava mensalmente a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian em Alpiarça. Os senhores que nos recebiam eram afáveis e davam-nos conselhos de leitura. 
-Leva este que é muito interessante. Conta a história de um velho pescador...
Levei-o e li-o. Quando o devolvi perguntaram-me:
-Então, gostaste?
Tive vergonha de dizer a verdade e respondi que sim. Mas os meus 12 ou 13 anos acharam o livro muito chato. Um velho que vai para a pesca e ali anda até apanhar um grande peixe que os tubarões comem e ele regressa ao porto apenas com a grande espinha presa ao casco do barquito... Aquela escrita seca que descrevia os pensamentos do velho e as falas dele com o miúdo ou consigo próprio no mar - bah! achei-as uma grande chumbada! Aquilo nada tinha a ver com as aventuras do Emílio Salgari ou de Júlio Verne.
Realmente, para que um livro seja bom são precisas várias coisas. Uma delas é um leitor disponível e capaz de entender, o que não era o meu caso.

Muitos anos depois peguei no livro. A medo, não fosse repetir-se a cena. Ah! Mas eu já não era o mesmo. E o livro encontrou o leitor. Era Hemingway e Cuba e os pescadores que eu aprendera a apreciar com os avieiros do Tejo ou em Peniche, nas companhas das traineiras que saíam para o mar ao fim da tarde e regressavam ao meio da noite. Eram os peixes com nomes e cheiros e paladares. E era aquela escrita luminosa, sem artifícios, directa ao osso do texto.


Hoje, ao reler mais uma vez o pequeno grande texto, senti de novo a maresia nos pensamentos de Santiago, o velho, e de Manoulin, seu jovem amigo, revi as luzes do pequeno porto de pesca e fui confortado pelas palavras imorredoiras ( p. 109):

«- Mas o homem não foi feito para a derrota - disse. - Um homem pode ser destruído mas não derrotado. Tenho pena de ter morto o peixe. Agora vem o pior e nem sequer me resta o arpão. O dentuso é feroz e hábil e forte e inteligente. Mas eu fui mais inteligente do que ele. Talvez não. Talvez só estivesse mais bem armado.»

Uma última recordação desses anos 60 do século passado: os senhores afáveis que nos aconselhavam livros na carrinha da Biblioteca Itinerante, eram - só vim a sabê-lo anos depois - Herberto Helder e António José Forte. Nem mais!



Pacheco Pereira não é personalidade que me provoque admiração ou simpatia. Tenho um preconceito assumido em relação a pessoas da minha geração que foram de extrema-esquerda no período revolucionário e que se passaram de armas e bagagens para a direita. Esse foi o caso de PP. Na altura eu era militante do PCP e ficava sumamente irritado com os ataques destes intelectuais que nos acusavam de "revisionistas". 

26.7.13

UM GESTO ... E O DIA ILUMINA-SE.





Fernando Fabião tem gestos  que chegam até aqui com a imprevisibilidade das chuvas de Verão.
Desta vez encontrei esta folha dentro do envelope que veio pelo correio.
E um pequeno cartão, mensagem artesanal com palavras luminosas.

Obrigado, querido poeta e amigo!

24.7.13

UMAS RICAS FÉRIAS - Página LUGAR ONDE no jornal BADALADAS de 26 de Julho

PDF da página do jornal

UMAS FÉRIAS BEM PASSADAS!

Há alturas da vida em que é preciso parar e pensar. Jacinto e Francisco Filipe, irmãos de Santo Isidoro (Mafra), tinham acabado de perder o pai. Estavam na meia-idade, a entrar na fase em que alguns se interrogam sobre o que andam cá a fazer. Homens de profunda Fé cristã e, por isso mesmo, inquietos, sentiram que era preciso passar das palavras aos actos, da “oração” à “hora de acção”. Jacinto explica:
«Isto foi no princípio de 1990. Surgiu a ideia de umas férias diferentes, em que, pelo voluntariado e pela solidariedade, pudéssemos conhecer outros povos, as suas tradições, tomar contacto com as suas dificuldades e, na medida do possível, contribuir com o nosso trabalho para a sua superação.»
Falaram com amigos, pesaram hipóteses e decidiram: Guiné-Bissau! Alguns tinham lá estado na guerra colonial, sabiam que era um dos países mais pobres do mundo, onde se fala Português. E não era longe, a 4 horas de avião de Lisboa.
«Como não conhecíamos ninguém daquelas paragens, foi através dos Padres Franciscanos portugueses que iniciámos os primeiros contactos em Lisboa, que viriam a permitir a concretização deste sonho de "Férias Solidárias"», diz Francisco Filipe.
E de 3 a 18 de Dezembro desse ano passaram férias em Bissau. «O nosso primeiro trabalho em terras africanas foi reparar as varandas, as cozinhas e as instalações sanitárias das doze casas pertencentes à Conferência de S. Vicente de Paulo, da paróquia de Nossa Senhora da Candelária, de Bissau. Essas casas eram habitadas por pessoas muito carenciadas.»
Nunca mais pararam. A partir daí, praticamente todos os anos há um grupo de pessoas que se integra nesta prática de “Férias solidárias”. Gente maioritariamente do Oeste mas também de todos os pontos do país. Rui Fiúza é um dos amigos que já lá foi diversas vezes. Electricista, sabe que o seu trabalho é precioso num país em que falta tudo: «O mais importante é não irmos para lá com a ideia de que nós é que sabemos. O nosso trabalho é fazer o que as pessoas dizem ser mais necessário para a vida delas. Não impomos nada. Perguntamos aos chefes das aldeias e eles é que dizem o que precisam.»
Construção de um pavilhão numa escola, reparação de poços, construção do Centro Social de Ondame, reorganização e gestão de um Centro Materno-infantil (que os nativos baptizaram de Bom Samaritano), Cursos de Formação em diversas áreas de Desenvolvimento Rural, montagem de uma Rádio Local e de um Centro Cultural, instalação de um bloco operatório na Clínica, campanha de consultas de oftalmologia e operações às cataratas – estes são alguns resultados destas “Férias Solidárias”.


                                                     Construção de um poço em Santa Luzia                                                                    
                                                                         * * *

FUNDAÇÃO JOÃO XXIII – CASA DO OESTE

Uma colaboração casual com esta instituição valeu-nos a oferta deste belíssimo livro que é um testemunho impressionante do que podem a Fé esclarecida e a prática da Fraternidade.
Folheámo-lo com avidez e encontrámos os sinais que identificam os homens de boa vontade: sentido da solidariedade, humanismo, cooperação, apelo a favor dos povos mais empobrecidos.


A chancela do livro revelou-nos que este projecto de “Solidariedade com a Guiné” está enquadrado na missão da Casa do Oeste, sita em Ribamar, concelho da Lourinhã – um lugar de encontro, formação e convívio da Diocese de Lisboa. Mais informações podem ser vistas aqui: http://casadooeste.no.sapo.pt/









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     VALORES DE OUTRA GRANDEZA

                                                                     
         Rui Fiúza, Francisco Filipe e Jacinto Filipe relataram com entusiasmo o que têm sido estas “Férias Solidárias”. Mas eles não se querem vedetas. Sublinham que pertencem a um grande grupo de muitas dezenas de pessoas que aderiram ao projecto desde 1990 até agora e que congregam vontades e recursos a partir da generosidade das pessoas e das empresas. Nada pedem ao Estado e todos os voluntários fazem questão de pagar as suas deslocações e despesas pessoais. Alugam um contentor que estacionam na zona de Mafra e ali vão guardando as dádivas: roupas, material escolar, ferramentas, materiais de construção e eléctricos, alimentos de longa duração, material clínico e, até, veículos usados. O contentor segue por via marítima e quando chega à Guiné já lá estão alguns voluntários que organizam a distribuição.

«Sabemos que os nossos gestos de solidariedade não salvam o mundo…, mas ajudar um povo a crescer, salvar uma criança que entrou em coma por falta de um simples anti-palúdico, ou limpar as cataratas dos olhos duma pessoa, são gestos, são momentos únicos na vida, que não têm preço, porque eles são valores de outra grandeza!...»
Ouvir a fala destes amigos leva-nos a olhar o mundo com mais optimismo s confiança. 


                                                                                  * * *

COMO COLABORAR

Se ficou sensibilizado e deseja colaborar nestas acções de apoio à Guiné-Bissau pode fazê-lo através da Fundação João XXIII – Casa do Oeste que organiza campanhas de angariação de materiais diversos. Ajudas financeiras podem ser depositadas em conta bancária, basta pedir número à Fundação. Dos donativos serão passados recibos. Informações no Secretariado da Fundação: telefone/fax 261 422 790.Mail: casadooeste@sapo.pt